Regeneração Batismal (#doutrinas católicas & evangélicas)

O objetivo dessa nova série (#doutrinas católicas & evangélicas), como o próprio nome já parece intuir, tem por objetivo dissertar sobre doutrinas que são católicas, isso é, que sempre foram aceitas pela Igreja em todos os lugares em todos os tempos, e que também ao mesmo tempo apontam para a centralidade do Evangelho de Jesus Cristo, tão caro para aqueles que aderiram à Reforma Protestante.

Uma Doutrina Católica

Por que a regeneração batismal é uma doutrina católica? Responder a essa pergunta é muito fácil. Trata-se de uma doutrina que sempre, por todos, e em todos os lugares, foi aceita como verdade. Existem muitas controvérsias em torno da sistematização do sistema sacramental da Igreja Medieval, mas não sobre a doutrina da regeneração batismal.

O historiador Jeroslav Pelikan cita uma lista extensa de Pais da Igreja que defenderam a regeneração batismal [1]. “Tertuliano […] sustentou […] quatro dos dons básicos do batismo […] remissão dos pecados, a liberatação da morte, a regeneração e a concessão do Espírito Santo (Tert. Marc. 1.28.2 [ccsl 1:472]).” Também Cipriano, que explicou que “em Mateus 28.19,20, o Senhor ordenou […] que as nações fossem lavadas em nome do Pai, do filho e do Espírito Santo, e que seus pecados passados fossem perdoados no batismo (Cipr. Ep. 27.3 [CSEL 3:543]).” E o que dizer de Irineu? O mesmo afirma: “quando éramos leprosos em pecado, fomos purificados de nossas antigas transgressões por meio da água sagrada e da invocação do Senhor sendo espiritualmente regenerados como bebês recém-nascidos(Iren. Fr. 33 [Harvey 2:497-98]; Or. Jo. 6.48.250 [GCS 10:157]). E por fim, citamos também Clemente, que diz a respeito do batismo: “Essa obra é de modo variado denominada de dom da graça, da iluminação, da perfeição e da lavagem, lavagem por meio da qual nossos pecados são levados embora; graça por meio da qual as penalidades acumuladas pelas transgressões são perdoadas […](Clem. Paed. 1.6.26.1-2 [GCS 12:105])“.

É também importante destacar que a Igreja do pós-reforma de ambos os lados, continuou professando essa doutrina. O nosso Bem-Aventurado Doutor da Igreja Martinho Lutero escreve que “o batismo opera o perdão dos pecados, livra da morte e do diabo, e dá salvação eterna a todos os que crêem nisso, como declaram as palavras da promessa divina.” (Citado por Martin Chemnitz, Enchiridion, Ed. Bookess, p.234). Na Reforma Conservadora essa doutrina continuou a ser defendida. Mas também nas alas mais radicais houveram defensores, como João Calvino, que defendia um tipo de regeneração batismal quase idêntico. Essa defesa de Calvino é desconsertante para muitos reformados hoje em dia, mas também se faz ecoar em muitos teólogos mais recentes dessa tradição, como Nevin, Shcaff, Peter Leithart, entre outros.

Muito mais poderia ser citado aqui em defesa da regeneração batismal, como por exemplo, as liturgias e devoções mais antigas relacionadas ao batismo. Tudo isso é mais que suficiente para perceber que dificilmente alguém pode se dizer católico sem confessar essa doutrina.

Uma Doutrina Evangélica

Mais importante que a aprovação de toda a Igreja são as declarações simples e puras das Sagradas Escrituras. É impressionantes como o racionalismo cegou tantos intérpretes protestantes a respeito de uma doutrina tão simples, bíblica e clara:

Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3:5);

Que também, como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência para com deus, pela ressureição de Jesus Cristo” (1 Pe 3:21);

E agora por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os seus pecados, invocando o nome do Senhor.” (At 22:16);

Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.” (Rm 6:3,4).

Essas e muitas outras passagens das Escrituras nos revelam que o lavar externo está intimamente associado ao lavar interno. Separar essas coisas é racionalizar o cristianismo, que é por definição uma religião de mistérios. Não podemos excluir passagens das Escrituras porque elas não se encaixam em nosso sistema. É o sistema que deve se amoldar a essas passagens mais simples e claras.

Além disso, a regeneração batismal é cristocêntrica. Ela aponta para a objetividade da obra consumada na Cruz. Não depende de obras, mas apenas da Palavra. Quando a Palavra se associa à água, é o próprio Cristo quem nos batiza na Sua morte e ressureição.

[1] Todas as citações do parágrafo foram extraídas do livro de Jaroslav Pelikan, A Tradição Cristã I, Shedd Publicações 2014.

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